terça-feira, 13 de julho de 2010

AFRO-DESCENDENTES E EDUCAÇÃO: UMA LEITURA DE CULTURA E CURRÍCULO ESCOLAR PELA LENTE DOS ESTUDOS CULTURAIS

INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA – ISE AJES – ASSOCIAÇÃO JUINENSE DO ENSINO SUPERIOR DO VALE DO JURUENA CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU LINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA DISCIPLÍNA: ESTUDOS DE CULTURA, PODER E LINGUAGEM AFRO-DESCENDENTES E EDUCAÇÃO: UMA LEITURA DE CULTURA E CURRÍCULO ESCOLAR PELA LENTE DOS ESTUDOS CULTURAIS JUINA/MT FEVEREIRO - 2010 INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA – ISE AJES – ASSOCIAÇÃO JUINENSE DO ENSINO SUPERIOR DO VALE DO JURUENA CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU LINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA DISCIPLÍNA: ESTUDOS DE CULTURA, PODER E LINGUAGEM  

LUIZ CARLOS MOREIRA RAMO MANTOVANO AFRO-DESCENDENTES E EDUCAÇÃO: UMA LEITURA DE CULTURA E CURRÍCULO ESCOLAR PELA LENTE DOS ESTUDOS CULTURAIS Trabalho apresentado como requisito para complementação da disciplina ESTUDOS DE CULTURA, PODER E LINGUAGEM do Curso de Pós Graduação Lato Sensu em LINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA. Prof. Ms. Aroldo de Arruda JUINA/MT FEVEREIRO - 2010 ESTUDO DO ARTIGO SOBRE AFRO-DESCENDENTES E EDUCAÇÃO: UMA LEITURA DE CULTURA E CURRÍCULO ESCOLAR PELA LENTE DOS ESTUDOS CULTURAIS. MARQUES, Eugenia Portela de Siqueira – UCDB - GT Afro-Brasileiros e Educação / n.21
EDIVINO DIAS MATTEUS LUIZ CARLOS MOREIRA RAMO MANTOVANO
RESUMO: Este artigo aborda as contribuições dos estudos culturais, em relação à diversidade dentro de cada cultura, suas multiplicidade e complexidade, orientada pelas hipóteses de que entre as diferentes culturas existem relações de poder e de dominação que devem ser questionados, destacando o tratamento dado à cultura negra no espaço escolar considerada como inferior, pela lógica da homogeneização da cultura branca e o resgate à contribuição do negro nas áreas social, econômica e políticas. PALAVRAS-CHAVE: Afro-descedentes, cultura, diversidade, espaço escolar. INTRODUCAO: O estudo das questões ligado as desigualdades raciais é um desafio proposto a se enfrentar. No Brasil os fatos da temática afro-descendente é um objeto de estudo que esteve por muito tempo seu alcance e interesses limitados, mais que com os debates e discussões vem progressivamente ganhando espaço e rompendo com os paradigmas preconizados pela discriminação racial. As políticas públicas de reconhecimento e implementação da cultura afro-descendente por muito tempo permaneceu enraizadas em pensamentos aristocratas, desprovidos de ideologias interculturais, permanecendo desvinculada das práticas educacionais. Incentivar e aprimorar o reconhecimento dessa cultura vinculada aos parâmetros educacionais no Brasil é um desafio atual, a maioria das escolas não conta em seu projeto político pedagógico ações concretas que viabilize parâmetros de implementação da cultura afro-brasileira em seu contexto de ensino-aprendizagem. Os livros escolares não contribuem para uma educação que contemple a diversidade dos alunos, neles negros são sempre escravos passivos e nunca sujeito da história. A população negra só aparece em livros didáticos que trata do Brasil colônia, fora desse período histórico, simplesmente não é retratada. Nesta concepção, as ideologias afro-brasileiras permaneceram estáticas, somente nos últimos anos, com a democratização das políticas educacionais é que essas concepções ideológicas passaram a conquistar espaço perante a sociedade. Portanto, apesar dos avanços e conquistas no sentido de reconhecimento e implementação da cultura afro-descendente no currículo escolar, essa concepção coloca se ainda como paradigmas a ser questionado. ESTUDOS CULTURAIS E EDUCAÇÃO ÉTNICO-RACIAL: ALGUMAS POSSIBILIDADES A cultura é um referencial que identifica, promove e dá sentido as ações de um determinado grupo, como identidade ela não é uma qualidade ou um comportamento individual, mas um sistema de relação e significados na qual estamos ligados. Ela é intrínseca a um grupo social, e não pode estar presa ao indivíduo. Estudos Culturais pretendem que suas análises funcionem como uma intervenção na vida política e social e que ajudem os indivíduos a constituírem uma sociedade mais cidadã, que possam ter acesso a universidades, pois a partir do momento em que um indivíduo tem acesso a educação, se torna culto, aprende a ser crítico, passa a questionar o certo e o errado o justo e o injusto se tornando consciente de suas ações e conhecedor das ações que contribuem para a construção de uma sociedade mais crítica e democrática. A construção de uma sociedade democrática pressupõe investimento à longo prazo. É preciso que o país invista mais em educação e na formação dos jovens para se tornar cidadãos construtivos e conscientes de seus atos, agente de ações para a transformação da realidade. As tarefas urgentes e desafiadoras para aqueles que se dedicam a lutar pela alteração das relações de dominação e desigualdade existente é questionar os pressupostos do pensamento europeu que legitimam as relações de opressão, dominação e exclusão do outro. Nesse contexto abordamos o pensamento bipolar, que estabelece uma hierarquia entre os dois pólos, ou seja, não concebe a diferença sem a hierarquização. Tomamos como exemplo a história da escravidão no Brasil: contada nos livros didáticos sob a lente do colonizador sabemos que a partir de velhos conceitos históricos, muitas lições ensinaram que os negros vieram para o Brasil no período colonial trazidos pelos portugueses para trabalhar como escravos nas lavouras e nas minas, uma vez que os índios não se adaptaram ao serviço braçal e além dos mais eram criaturas bravas e os negros eram pessoas dóceis e fáceis de lidar. Estudos posteriores desmentiram essas idéias, mostrando que muitos fatos foram omitidos, os negros que aqui chegaram e eram escravizados, já possuíam o ofício de lavrador ou sabiam trabalhar com o bronze, o cobre ou a madeira. O que aconteceu na construção do Brasil é que a grande carga dos negros eram transportados da costa da Angola, onde os navios portugueses iam fazer mercantilismo e trafegavam com suas embarcações. Estas constatações são fundamentais para que se possa iniciar um novo aprendizado sobre a história africana e eliminar os preconceitos adquiridos num processo de informação racista que vigoraram ao longo da história. Esses acontecimentos recentemente passaram a ser questionadas, a história passa a ser resgatada e reescrita a partir de fundamentos históricos descentralizado de ideologias dominantes. Para reforçar esse resgate sócio cultural, as políticas educacionais e culturais passaram a valorizar o passado da cultura afro-descendente, suas crenças e ideologias, dando ao negro oportunidades de expressão e de se impor perante a sociedade como cidadãos críticos construtivos e livre, dotado de ideologias e conhecimentos. AS REPRESENTAÇÕES DA LINGUAGEM E A IDENTIDADE NEGRA A cultura e a linguagem estão entrelaçadas, não há como abordar uma sem a outra, ao se falar de cultura e linguagem não há limite territorial, ela não precisa de autorização para chegar a outro país, ela leva, traz e fomenta novas ideologias, promove a interação, junção de práticas de ideologias. Todas as culturas constituem-se em linguagens e códigos que cabe a nós decodificá-los. A forma como a linguagem verbal e visual é empregada em relação ao negro reforça os inúmeros significados pejorativos construídos ao longo da cultura escolar brasileira. A discriminação está presente desde as inocentes cantigas para ninar - “boi, boi, boi / boi da cara preta, / pega esta criança / que tem medo de careta” -, até na linguagem visual dos adesivos utilizados em acessórios de filmadoras, nos vídeos cassetes e nas fitas VHS magnéticas. A figura abaixo é um selo-adesivo que acompanha uma fita de vídeo cassete marca EMTEC. As mascara em preto e brancos revelam o retrato de uma sociedade que adquiriu preconceito perante a um objeto. Existem crendices que tornam o culto ao negro ainda mais sombrio revelando sua cultura como, por exemplo, o candomblé associado ao mal. A figura acima do Minotauro revela uma Anastácia muito mais escura do que poderia ser, pois as crianças já têm a idéia de que a escrava é negra, retrata uma serventia ao vassalo. As mulheres negras desta época eram transformadas em criada e trabalhavam nas casas dos patrões, pois assim como seus marido, as mesmas tinham um vasto conhecimento na culinária e ainda serviam de aperitivos para seus patrões que abusavam dessas criadas que acabavam ficavam grávidas, dando origem assim a grande miscigenação de raças. Nesta figura acima mostra uma negra alegre onde a mesma punha pra fora toda sua felicidade nos afazeres domésticos, causando espanto nas pessoas ao seu convívio. Seus traços físicos são enfatizados, boca carnuda o cabelo enrolado, corpo aparentemente esbelto, mostrando os traços da mulher brasileira. Essa foto mostra a grande humilhação com o negro submetido aos seus criados. Quando uma criança atingia certa idade ela ganhava seu escravo que servia para satisfazer todos os seus pedidos. A exemplo disso temos em “Memória Póstuma de Brás Cuba”, a história de um menino branco que faz de seu criado um cavalinho, submetendo a condições de um animal. Nos dias atuais podemos contar com a participação do negro como ator principal em vários filmes e novelas como, por exemplo, Tais Araújo da novela viver a vida que representa o primeiro papel de Helena negra do produtor Jayme Monjardim, onde este negro teve seu valor reconhecido; na política também com vários lideres mundiais e em muitos outros setores em todo contexto mundial. É preciso frisar também que o preconceito acontece com todas as raças não somente com os negros, devemos mesmo é excluir todos os preconceitos e nossos pré-conceitos enraizados em nossa cultura. A CULTURA E O CURRÍCULO ESCOLAR: MECANISMOS DE CONSTRUÇÃO/RECONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA? Com a criação e implementação da lei 10.639/03 a cultura afro-descedente passou a ser legitimado dentro do currículo escolar como mecanismo de reconhecimento e resgate das ideologias e identidade cultural. Na construção desse resgate sócio-histórico além dos livros e outros materiais didático, o reconhecimento e a valorização do contexto cultural, as experiências e o conhecimento que os estudantes trás, se faz fundamental na valorização da cultura. Apesar dos avanços no reconhecimento da cultura afro-descendente no contexto escolar, ainda são abordadas de forma muito simplista, não há materiais apropriado a esse resgate, poucos livros didáticos enfatizam a cultura afro e quando aborda não trás nenhum aprofundamento sócio-histórico e cultural, a maioria das abordagens são carregadas de ideologias de grupos dominantes. Nas instituições de ensino superior ainda pouco se estuda sobre cultura afro-descendente. Para valorizar essa implementação, precisamos de políticas de descentralização de culturas dominantes e reconhecimento das culturas regionais e africanas no contexto do currículo escolar. Pouco se estuda sobre a linguagem e a cultura dos povos de origem africana que fizeram parte da colonização do Brasil; temos os sudaneses, do golfo da Guiné, do Senegal e da Nigéria, os bântus, originarios do Congo, da Angola, de Moçambique e do norte da África do Sul e outros povos de origem africana. Todos esses povos trouxeram consigo suas culturas e sua língua de origem, formando comunidades com língua diversas faladas no Brasil, além da língua de centenas de grupos indígenas que cultivavam suas culturas e origem. Todo esse contexto de cultura foi descredenciada perante uma ideologia de cultura européia dominante com suas concepções de moral, valores, costumes, religiosidade, conhecimentos e métodos pedagógicos, trazidos pelos portugueses, incluindo a linguagem oficial nas regras da escola nas relações sociais na seleção e apresentação do conhecimento escolar. Nesse contexto de desigualdade social no ensino brasileiro, podemos perceber que o maior índice de desemprego de evasão escolar ainda esta entre os negros, apesar de todos os avanços e esforços de reconhecimento e valorização do negro ainda a média de desempenho escolar é baixa em relação aos alunos brancos. No sentido de redefinir a educação através dos enfoques dados pelos estudos culturais, as faculdades de educação e as escolas são mecanismos fundamentais e suas ações devem ser ações para a libertação; libertação do indivíduo de todas as formas de discriminação e preconceitos e com políticas educacionais direcionada ao resgate histórico da cultura afro e a valorização da identidade cultural. A escola como interação social tem a função de prover a democratização do sistema de ensino visando o resgate histórico-social e o reconhecimento das diversidades culturais. Essas diversidades culturais devem ser trabalhadas com as crianças desde quando ela ingressa na escola, por profissionais capacitados que possam compreender que existem culturas diferentes, porém não desiguais e que o respeito às diferenças são condutas indispensáveis. Os estudos culturais podem contribuir para a construção de uma sociedade mais democrática, portando para que isso aconteça deve se acreditar que é possível transformar, e juntos promover ações de libertação, transformação e construção de uma sociedade mais digna e democrática.

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